Dadas as relações entre jornalistas e cientistas, "seria impossível esconder a informação"
Matthew Lloyd
Caso seja confirmada a existência de vida extraterrestre, a notícia vai espalhar-se. Mas não se sabe como. Nem a NASA, nem as Nações Unidas têm um protocolo de comunicação.
A ausência de provas da vida extraterrestre não descarta a possibilidade da sua existência. Por isso, seria de esperar que existissem protocolos de comunicação, em caso de descoberta. Mas não existem. Sabe-se apenas que a informação não seria mantida em segredo e que não seriam os cientistas a espalhar a notícia.
A responsabilidade é deixada para a NASA, que não tem qualquer protocolo de divulgação de tal notícia. Steven J. Dick, astrônomo, astrobiólogo e ex-chefe historiador da NASA explicou o porquê, ao jornal El Español: “A NASA tem estado ausente dos assuntos do SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), desde 1993”. É que se há protocolo que a agência tem é o de proteção planetária. A verdadeira preocupação é a de evitar contaminações possíveis de ecossistemas extraterrestres com os micróbios terrestres ou, ao contrário, impedir que o nosso ecossistema seja afetado.
A NASA não é o único organismo sem protocolo para uma situação destas. “Os protocolos não fazem parte de qualquer tratado das Nações Unidas e não são juridicamente vinculativos”, aponta Steven Dick. Os governos em geral também não têm qualquer procedimento estabelecido.
Tentativas não faltaram. Em 1997, a Comissão para a Utilização Pacífica do Espaço Exterior das Nações Unidas discutiu o assunto mas sem resultado. Na mesma década, Michael Michaud, diplomata norte-americano, promoveu uma iniciativa para envolver as instituições neste assunto. Porém, não houve qualquer interesse institucional, quer do Departamento de Estado dos EUA, quer dos ministérios das relações exteriores de outros países.
No final da década de 80, e em resultado dos esforços de John Billingham, diretor do SETI de então, é publicado um protocolo pela Academia Internacional de Astronáutica, da qual Steven J. Dick é membro. Surge a Declaração de Princípios sobre a Deteção Subsequente das Atividades de Inteligência Extraterrestre, revista em 2010. Foi, de facto, adotada por várias organizações. Mas não pelas Nações Unidas.
Steven J. Dick indicou alguns dos pontos do protocolo ao El Español: “Confirmar qualquer sinal e, em seguida, dizer a todos, por outras palavras, não manter isso em segredo”. Porém, ressalta que, dadas as relações entre jornalistas e cientistas, “seria impossível esconder a informação”.
O principal problema começa antes da divulgação. Em caso de sermos contactados por extraterrestres não se sabe ao certo como responder ou sequer se deve responder-se. Um dos defensores desta segunda via é Stephen Hawking. O físico defende que não haverá necessidade de divulgação, porque o melhor é não responder aos extraterrestres para não revelar a nossa existência, uma vez que tal poderia fazer com que nos tornássemos um alvo. Será certo que a informação não será mantida em segredo. Mas não se sabe como chegará até nós. Ou se chegará sequer.
Fonte:http://observador.pt
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